quinta-feira, 23 de setembro de 2010

É hora de valorizar nosso patrimônio cultural

É hora de valorizar nosso patrimônio cultural

O trabalho com as heranças culturais de sua região permite que o aluno aprenda a resguardar a memória da comunidade e se sinta parte dela

Janaína Castro mailto:novaescola@atleitor.com.br, de Brasília, DF. Colaboraram Bianca Bibiano, de Olinda, PE, Denise Pellegrini, de Foz do Iguaçu, PR, Paula Nadal, de
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Para levar seus alunos a conhecer o centro histórico de Olinda, a 6 quilômetros do Recife, os professores da EM Dona Brites de Albuquerque fizeram muito mais do que um simples passeio pelos principais pontos da região - conduziram uma pequena investigação sobre o patrimônio cultural local. Depois de uma pesquisa em sala de aula, todos exploraram as ruas a pé, observaram construções e conheceram personagens. Ana Lúcia Oliveira, que leciona para o 3º ano, apontou as diferenças entre prédios comuns e tombados e mostrou como o edifício histórico está relacionado à origem daquela comunidade. Já Niedja Nascimento proporcionou à classe de 2º ano encontros com moradores que conhecem bem as tradições, como a pesca e a dança, além de uma entrevista com um artesão de bonecos. Para Sueli Furlan, da Faculdade de Geografia da Universidade de São Paulo (USP) e selecionadora do Prêmio Victor Civita - Educador Nota 10, a experiência da escola pernambucana é boa porque permite aos estudantes ter acesso ao modo de vida de uma época como forma de pensar os dias de hoje. "A gente aprende por comparação e pelas lições de outros tempos que revelam como se vive atualmente e estabelecem valores", explica.

O Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) denomina como patrimônio cultural todas as expressões criadas pela sociedade que, com o tempo, são agregadas às das gerações anteriores. Esse conceito, hoje, se estende a imóveis particulares, trechos urbanos e até ambientes naturais de importância paisagística, além de imagens, utensílios e outros bens móveis. A própria comunidade pode indicar como classificar seus bens, de acordo com o que julgar representativo, e cabe ao Conselho Consultivo do Iphan determinar como tal propriedade será registrada oficialmente. Um prédio histórico pode estar integrado a uma área tombada (o tombamento é um ato do poder público para impedir a destruição ou a descaracterização de um bem), assim como um parque natural pode carregar consigo lendas e práticas econômicas marcantes. É por isso que um mesmo local pode ser estudado com diferentes abordagens. O trabalho realizado em Olinda explora o aspecto histórico do patrimônio (leia no quadro abaixo por que trabalhar esse conceito na escola). Nesta reportagem, você também vai conhecer outras quatro abordagens: artística, arquitetônica, imaterial e natural. Todas vêm acompanhadas de exemplos, espalhados pelo Brasil, de como explorar o tema com seus alunos.

Patrimônio histórico
Fotos: Paulo Fridman/Getty Images, Heitor Hui, Bia Parreiras, Ze Marques
- O que é
Tombado por órgãos oficiais ou não, é um bem cultural que simboliza a formação de um povo e carrega testemunhos de sua história. As relações entre passado e presente e as mudanças ocorridas em uma cidade ao longo do tempo, por exemplo, são representadas no centro histórico - suas diferentes arquiteturas, seu traçado urbano, o desenho das ruas, tudo pode ser uma referência para que se compreenda o modo de vida dos antigos e atuais habitantes de um lugar, independentemente da beleza artística. Da mesma maneira, arquivos históricos, jardins, parques, praças e artefatos de época podem ser considerados patrimônios históricos por sua importância como documentos de uma época.

- Por que trabalhar
Para debater questões relativas à preservação e à modernização de uma região, refletir sobre planejamento urbano (disposição de ruas e técnicas de construção, por exemplo) ou entender as relações entre passado e presente (via observação e interpretação de um espaço).

- Exemplos
Olinda (foto maior), João Pessoa, Porto Seguro, na Bahia, e Santana de Parnaíba, no interior paulista (de cima para baixo, nas fotos menores), são exemplos de cidades em que é possível aprender com os alunos no centro histórico.
Construir a sensação de pertencimento a uma cultura é um dos principais objetivos quando se trabalha com o patrimônio cultural. Em Brasília, a CEF 104 Norte realiza um projeto permanente relacionado à valorização e à apropriação dos símbolos da cidade. Neste ano, os alunos da 8ª série aprenderam sobre a ocupação urbana conhecendo os azulejos pintados pelo artista plástico Athos Bulcão, que estão espalhados por diversos pontos da capital federal e foram tombados pela Secretaria de Cultura em 2009. "Só por caminhar pela cidade, os jovens descobrem que também são construtores da própria história, bem como responsáveis por sua preservação", conta a professora Altidel Cardoso Soares. Depois de treinar a apreciação artística, na observação dos azulejos, e passar a vê-los como parte da paisagem urbana, a turma pintou as próprias cerâmicas para cobrir uma das paredes da escola (saiba mais sobre como trabalhar o patrimônio artístico de sua região abaixo).

Patrimônio artístico

Fotos: Edgard Cesar, Luigi Mamprin, Sérgio Tauhata













- O que é
Todos os bens artísticos ou mobiliários (esculturas, telas, móveis, em peças únicas ou acervos) que tenham relevância cultural para a comunidade. Identificam uma região ou um povo por ser uma referência estética, plástica ou estilística, sem necessariamente ter passado pelo processo de tombamento.

- Por que trabalhar
O valor cultural de cada obra abre um debate sobre o significado da arte e como ela está inserida na comunidade. As peças marcam a identidade da paisagem urbana. Estimular a apreciação e a crítica artística acentua o diálogo entre as produções regionais e a diversidade da arte universal.

- Exemplos
Os azulejos de Athos Bulcão em Brasília (foto maior), as esculturas de Aleijadinho em Congonhas do Campo, Minas Gerais, e o acervo do Museu Lasar Segall, em São Paulo (nas fotos menores, de cima para baixo), são obras relevantes.
A 485 quilômetros de Porto Alegre, o município de São Miguel das Missões guarda um dos maiores patrimônios arquitetônicos do país. As ruínas da igreja construída pelos índios guaranis e jesuítas no século 17 (tombadas em 1983 pela Unesco, o órgão das Nações Unidas que se dedica à Educação, à Ciência e à Cultura) e todo o parque em seu entorno são o exemplo de um estilo de construção - e representam a história do encontro dos padres espanhóis com os índios guaranis (leia mais sobre como explorar o patrimônio arquitetônico no quadro abaixo). Para ajudar professores e alunos da rede municipal a compreender a importância do local, a Secretaria Municipal de Educação fechou uma parceria com o Iphan para oferecer a formação continuada aos professores e oficinas com as crianças, em campo e em classe. Rosa Nunes, diretora da EMEF Eduardo Damião, conta que esse trabalho mudou radicalmente a relação da população com o sítio arqueológico. "O pessoal de fora sabia mais da nossa história do que nós. Agora, nossas turmas têm outra imagem da população indígena e sabem o que fazer para que as ruínas sejam conservadas."

Patrimônio arquitetônico

Fotos: Paula Takada, Gladstone Campos, Cristiano Mascaro













- O que é
Edificações que, preservadas ou em ruínas, guardam a memória histórica e representam as inovações ocorridas naquele local ao longo do tempo. Podem ser monumentos religiosos, palácios, casas, indústrias e prédios oficiais que indiquem um estilo e uma técnica de construção marcante para a comunidade.

- Por que trabalhar
É essencial que os alunos compreendam a necessidade de preservar um bem arquitetônico, pois ele revela informações sobre a formação da região. Entre outros aspectos, as construções apontam as relações com o meio ambiente, as necessidades de certa época e as inspirações artísticas.

- Exemplos
As ruínas da Igreja de São Miguel das Missões (foto maior), o conjunto arquitetônico e paisagístico da Pampulha, em Belo Horizonte, e o Theatro José de Alencar, em Fortaleza (fotos menores, da esquerda para a direita).
Mesmo sem construções históricas ou obras de arte monumentais, cada povo tem formas próprias de se distinguir. Festas e eventos são conhecidos entre os especialistas como manifestações imateriais da cultura (veja mais detalhes no quadro abaixo). Na EEEFM Novo Horizonte, em Ananindeua, a 20 quilômetros de Belém, a professora de Educação Física Valéria de Paula Moreira pediu que os alunos elaborassem coreografias sobre as lendas e os ritmos característicos da região, como o carimbó (que está em processo de registro como patrimônio cultural da região). Os professores de Arte e História ensinaram como a dança típica surgiu e se consolidou. E toda a comunidade foi envolvida no projeto, da confecção dos figurinos às apresentações montadas pelos jovens. "Essa participação é muito rica porque dá um significado maior à sensação de pertencer a um grupo", diz Simone Alcântara, formadora do Instituto Avisa Lá e professora da Universidade Gama Filho (UGF), no Rio de Janeiro.
Patrimônio imaterial

Fotos: Heudes Regis, Gilvan Barreto, Andréa D'Amato

- O que é
O conjunto de práticas e saberes transmitidos de geração em geração que diferenciam determinado povo ou região. Danças, músicas, expressões, lendas, festas, celebrações, conhecimentos e técnicas, assim como instrumentos, artefatos e lugares, carregam em si uma memória coletiva.

- Por que trabalhar
Os bens imateriais estão relacionados à formação da identidade da comunidade. É importante ressaltar o significado cultural para se sentir integrante do contexto em que vive e reflitir sobre a diversidade das manifestações.

- Exemplos
A dança paraense do carimbó (foto maior), a Feira de Caruaru, em Pernambuco, e o Ofício das Paneleiras de Goiabeiras, em Vitória (fotos menores, da esquerda para a direita) são saberes e práticas para explorar com a turma.
Já em Foz do Iguaçu, a 637 quilômetros de Curitiba, a EM Santa Rita de Cássia prevê, no currículo da 3ª série, o estudo do município. E, todos os anos, as turmas desenvolvem projetos sobre o Parque Nacional do Iguaçu, patrimônio natural reconhecido pela Unesco (leia mais sobre esse tipo de patrimônio no quadro abaixo). "A paisagem é a natureza conjugada com a cultura e não apenas um ecossistema", resume Sueli Furlan. A professora Leda Márcia Dias Dal'Lin explorou com os alunos aspectos turísticos, características da flora e da fauna locais e manifestações folclóricas. Durante a visita às cataratas, todos viram de perto as belezas estudadas em sala de aula. Além disso, tiveram a chance de entrar em contato com turistas do país e do exterior (comprovando a importância econômica do parque) e aprenderam mais sobre como as lendas estão relacionadas ao ambiente. Que os exemplos mostrados nesta reportagem sirvam de inspiração para que nosso rico patrimônio cultural esteja cada vez mais presente em suas aulas.

Patrimônio natural
Fotos: Divulgação, Ichiro Guerra Oceania Cruises/Divulgação













- O que é
Todo local cuja natureza tenha relevância para uma população. É o lugar que apresenta relações significativas com a sociedade, por causa das lendas e da história ou da economia a ele associada. A raridade, a importância de um bioma ou a beleza de seu conjunto também recebe a classificação de patrimônio natural.

- Por que trabalhar
Para que o aluno compreenda o espaço onde vive com conhecimentos históricos e geográficos, sendo apresentado às manifestações folclóricas e às atividades econômicas ou turísticas do local. O estudo sobre a flora e a fauna típicas da região incentiva a preservação, pois assim ele se considera parte dele.

- Exemplos
O Parque Nacional de Foz do Iguaçu (foto maior), o Corcovado, no Rio de Janeiro, e as Grutas do Lago Azul, em Bonito, Mato Grosso do Sul (de cima para baixo, nas fotos menores).
Erros mais comuns
- Limitar-se a efemérides. Abordar manifestações típicas só em datas comemorativas esvazia o significado da memória de um povo. Deve-se entender as produções como parte integrante de uma comunidade.

- Ignorar as pessoas da comunidade. A participação de artistas e outros agentes culturais aproxima a turma dos fazeres típicos da região.

- Tratar o Patrimônio Cultural como passado. Entender o que é histórico como algo que já acabou distancia a criança daquilo que também forma sua identidade. Trabalhar com tradições é refletir sobre a atualidade.

ENCONTRO DISCUSSÕES BLOG


Reunião com as professoras da Rede Municipal da Formação PATRI
DIA 19 DE OUTUBRO DE 2010
das 13:30 às 17:00 horas - Univille - Centro - sala B 112

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