É hora de valorizar nosso patrimônio cultural
O trabalho com as heranças culturais de sua região permite que o aluno aprenda a resguardar a memória da comunidade e se sinta parte dela
Janaína Castro mailto:novaescola@atleitor.com.br, de Brasília, DF. Colaboraram Bianca Bibiano, de Olinda, PE, Denise Pellegrini, de Foz do Iguaçu, PR, Paula Nadal, de
Reportagens- Preservar o patrimônio cultural da cidade é preciso
- Entre prédios e praças
- O caminho da preservação da cultura indígena
- Conhecer a cultura. Soltar a imaginação
Vídeos
- Patrimônio natural: estudo sobre o Parque Nacional do Iguaçu
- Patrimônio cultural: São Miguel das Missões
O Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) denomina como patrimônio cultural todas as expressões criadas pela sociedade que, com o tempo, são agregadas às das gerações anteriores. Esse conceito, hoje, se estende a imóveis particulares, trechos urbanos e até ambientes naturais de importância paisagística, além de imagens, utensílios e outros bens móveis. A própria comunidade pode indicar como classificar seus bens, de acordo com o que julgar representativo, e cabe ao Conselho Consultivo do Iphan determinar como tal propriedade será registrada oficialmente. Um prédio histórico pode estar integrado a uma área tombada (o tombamento é um ato do poder público para impedir a destruição ou a descaracterização de um bem), assim como um parque natural pode carregar consigo lendas e práticas econômicas marcantes. É por isso que um mesmo local pode ser estudado com diferentes abordagens. O trabalho realizado em Olinda explora o aspecto histórico do patrimônio (leia no quadro abaixo por que trabalhar esse conceito na escola). Nesta reportagem, você também vai conhecer outras quatro abordagens: artística, arquitetônica, imaterial e natural. Todas vêm acompanhadas de exemplos, espalhados pelo Brasil, de como explorar o tema com seus alunos.
Patrimônio histórico
Fotos: Paulo Fridman/Getty Images, Heitor Hui, Bia Parreiras, Ze Marques |
- O que é
Tombado por órgãos oficiais ou não, é um bem cultural que simboliza a formação de um povo e carrega testemunhos de sua história. As relações entre passado e presente e as mudanças ocorridas em uma cidade ao longo do tempo, por exemplo, são representadas no centro histórico - suas diferentes arquiteturas, seu traçado urbano, o desenho das ruas, tudo pode ser uma referência para que se compreenda o modo de vida dos antigos e atuais habitantes de um lugar, independentemente da beleza artística. Da mesma maneira, arquivos históricos, jardins, parques, praças e artefatos de época podem ser considerados patrimônios históricos por sua importância como documentos de uma época.
Tombado por órgãos oficiais ou não, é um bem cultural que simboliza a formação de um povo e carrega testemunhos de sua história. As relações entre passado e presente e as mudanças ocorridas em uma cidade ao longo do tempo, por exemplo, são representadas no centro histórico - suas diferentes arquiteturas, seu traçado urbano, o desenho das ruas, tudo pode ser uma referência para que se compreenda o modo de vida dos antigos e atuais habitantes de um lugar, independentemente da beleza artística. Da mesma maneira, arquivos históricos, jardins, parques, praças e artefatos de época podem ser considerados patrimônios históricos por sua importância como documentos de uma época.
- Por que trabalhar
Para debater questões relativas à preservação e à modernização de uma região, refletir sobre planejamento urbano (disposição de ruas e técnicas de construção, por exemplo) ou entender as relações entre passado e presente (via observação e interpretação de um espaço).
- Exemplos
Olinda (foto maior), João Pessoa, Porto Seguro, na Bahia, e Santana de Parnaíba, no interior paulista (de cima para baixo, nas fotos menores), são exemplos de cidades em que é possível aprender com os alunos no centro histórico.
Construir a sensação de pertencimento a uma cultura é um dos principais objetivos quando se trabalha com o patrimônio cultural. Em Brasília, a CEF 104 Norte realiza um projeto permanente relacionado à valorização e à apropriação dos símbolos da cidade. Neste ano, os alunos da 8ª série aprenderam sobre a ocupação urbana conhecendo os azulejos pintados pelo artista plástico Athos Bulcão, que estão espalhados por diversos pontos da capital federal e foram tombados pela Secretaria de Cultura em 2009. "Só por caminhar pela cidade, os jovens descobrem que também são construtores da própria história, bem como responsáveis por sua preservação", conta a professora Altidel Cardoso Soares. Depois de treinar a apreciação artística, na observação dos azulejos, e passar a vê-los como parte da paisagem urbana, a turma pintou as próprias cerâmicas para cobrir uma das paredes da escola (saiba mais sobre como trabalhar o patrimônio artístico de sua região abaixo).
Patrimônio artístico
Fotos: Edgard Cesar, Luigi Mamprin, Sérgio Tauhata |
- O que é
Todos os bens artísticos ou mobiliários (esculturas, telas, móveis, em peças únicas ou acervos) que tenham relevância cultural para a comunidade. Identificam uma região ou um povo por ser uma referência estética, plástica ou estilística, sem necessariamente ter passado pelo processo de tombamento.
- Por que trabalhar
O valor cultural de cada obra abre um debate sobre o significado da arte e como ela está inserida na comunidade. As peças marcam a identidade da paisagem urbana. Estimular a apreciação e a crítica artística acentua o diálogo entre as produções regionais e a diversidade da arte universal.
- Exemplos
Os azulejos de Athos Bulcão em Brasília (foto maior), as esculturas de Aleijadinho em Congonhas do Campo, Minas Gerais, e o acervo do Museu Lasar Segall,
Patrimônio arquitetônico
Fotos: Paula Takada, Gladstone Campos, Cristiano Mascaro |
- O que é
Edificações que, preservadas ou em ruínas, guardam a memória histórica e representam as inovações ocorridas naquele local ao longo do tempo. Podem ser monumentos religiosos, palácios, casas, indústrias e prédios oficiais que indiquem um estilo e uma técnica de construção marcante para a comunidade.
- Por que trabalhar
É essencial que os alunos compreendam a necessidade de preservar um bem arquitetônico, pois ele revela informações sobre a formação da região. Entre outros aspectos, as construções apontam as relações com o meio ambiente, as necessidades de certa época e as inspirações artísticas.
- Exemplos
As ruínas da Igreja de São Miguel das Missões (foto maior), o conjunto arquitetônico e paisagístico da Pampulha,
Patrimônio imaterial
Fotos: Heudes Regis, Gilvan Barreto, Andréa D'Amato |
- O que é
O conjunto de práticas e saberes transmitidos de geração em geração que diferenciam determinado povo ou região. Danças, músicas, expressões, lendas, festas, celebrações, conhecimentos e técnicas, assim como instrumentos, artefatos e lugares, carregam em si uma memória coletiva.
O conjunto de práticas e saberes transmitidos de geração em geração que diferenciam determinado povo ou região. Danças, músicas, expressões, lendas, festas, celebrações, conhecimentos e técnicas, assim como instrumentos, artefatos e lugares, carregam em si uma memória coletiva.
- Por que trabalhar
Os bens imateriais estão relacionados à formação da identidade da comunidade. É importante ressaltar o significado cultural para se sentir integrante do contexto em que vive e reflitir sobre a diversidade das manifestações.
- Exemplos
A dança paraense do carimbó (foto maior), a Feira de Caruaru, em Pernambuco, e o Ofício das Paneleiras de Goiabeiras, em Vitória (fotos menores, da esquerda para a direita) são saberes e práticas para explorar com a turma.
Já em Foz do Iguaçu, a
Patrimônio natural
Fotos: Divulgação, Ichiro Guerra Oceania Cruises/Divulgação |
- O que é
Todo local cuja natureza tenha relevância para uma população. É o lugar que apresenta relações significativas com a sociedade, por causa das lendas e da história ou da economia a ele associada. A raridade, a importância de um bioma ou a beleza de seu conjunto também recebe a classificação de patrimônio natural.
- Por que trabalhar
Para que o aluno compreenda o espaço onde vive com conhecimentos históricos e geográficos, sendo apresentado às manifestações folclóricas e às atividades econômicas ou turísticas do local. O estudo sobre a flora e a fauna típicas da região incentiva a preservação, pois assim ele se considera parte dele.
- Exemplos
O Parque Nacional de Foz do Iguaçu (foto maior), o Corcovado, no Rio de Janeiro, e as Grutas do Lago Azul, em Bonito, Mato Grosso do Sul (de cima para baixo, nas fotos menores).
Erros mais comuns
- Limitar-se a efemérides. Abordar manifestações típicas só em datas comemorativas esvazia o significado da memória de um povo. Deve-se entender as produções como parte integrante de uma comunidade.
- Ignorar as pessoas da comunidade. A participação de artistas e outros agentes culturais aproxima a turma dos fazeres típicos da região.
- Tratar o Patrimônio Cultural como passado. Entender o que é histórico como algo que já acabou distancia a criança daquilo que também forma sua identidade. Trabalhar com tradições é refletir sobre a atualidade.
- Ignorar as pessoas da comunidade. A participação de artistas e outros agentes culturais aproxima a turma dos fazeres típicos da região.
- Tratar o Patrimônio Cultural como passado. Entender o que é histórico como algo que já acabou distancia a criança daquilo que também forma sua identidade. Trabalhar com tradições é refletir sobre a atualidade.